A desordem sempre estará entre nós.
Vivemos numa sociedade na qual a desordem parece estar sempre aumentando. Não é difícil lembrar do caos que se instala no trânsito urbano de grandes cidades e das variações climáticas catastróficas vistas recentemente. Ainda que o senso comum diga que somos responsáveis por parte dessa balbúrdia, a maioria de nós nem imagina que essa seja uma das manifestações mais fundamentais e intrigantes da natureza, conhecida como princípio do aumento da entropia. Essa palavra estranha, entropia, representa uma medida da desordem e pode ser entendida com a ajuda de alguns exemplos da vida diária.
Imagine uma grande biblioteca, muito bem organizada, com todos os livros arrumados de maneira lógica e sequencial. Esse seria um sistema de baixa entropia (ou baixa desordem). O que aconteceria com essa organização se a biblioteca fosse deixada ao acaso? Basta pensar naquele vai e vem dos usuários tirando livros daqui e dali. Em pouco tempo, essa biblioteca estaria uma bagunça! Para encontrar um único livro você poderia levar horas a fio e gastar tanta energia a ponto de desistir da busca. A entropia da biblioteca bagunçada seria bem mais alta se comparada ao estado inicial.
Outro exemplo do aumento de entropia aparece na interação entre pessoas numa empresa. O que ocorre quando um colega de trabalho conta fofocas ou mentiras a respeito de outros colegas? Todas as pessoas envolvidas ficam muito bravas e a estória tende a crescer ao ponto de interferir na produtividade do grupo. Muita “energia pessoal” é desperdiçada em algo que não tem nada a ver com os interesses da empresa. Como resultado, o grupo de colegas perde seu foco, ficando mais desorganizado, o que eleva a sua entropia.
Buscando por ordem nos sistemas mencionados, você poderia perguntar: será que é possível, de alguma forma, reorganizar o que foi desorganizado e voltar à estaca zero, sem deixar nenhum vestígio de tudo que ocorreu?
A resposta é um sonoro não! No caso da biblioteca, a princípio seria possível reorganizar os livros e ver a biblioteca como era no estado inicial, mas o próprio uso dos livros deixa vestígios que não podem ser apagados. Mesmo que a recolocação de cada livro ao lugar de origem seja feita com o maior cuidado possível, pequenos defeitos na capa e nas folhas seriam notados e isso significa que a reorganização não é perfeita; o processo de desordenar livros não pode ser revertido completamente.
O mesmo vale para as fofocas no trabalho, mesmo que o colega que as proferiu peça desculpa a todos, seria impossível retornar ao estado inicial (antes das fofocas) porque a memória dos colegas não pode ser apagada facilmente e muitos deles se lembrarão daquela confusão muitos anos depois. Logo, o processo de reorganização, representado pela retratação do colega fofoqueiro, não é perfeito, o processo de contar fofocas é irreversível e parte da entropia permanece no grupo.
Os dois exemplos descritos não parecem tão dramáticos a ponto de causar o aumento da desordem de modo geral, pois, aparentemente, eles deixam apenas uma quantidade pequena de desordem em nossas vidas. Mas se você imaginar que TUDO o que fazemos no dia-a-dia aumenta a entropia ao nosso redor, a sua opinião pode mudar de maneira significativa. O fato de ler, estudar, pensar, correr, brigar, trabalhar etc., tudo que realizamos gera entropia, mesmo que em alguns casos a geração seja imperceptível ou quase desprezível. O problema é que todos nós geramos um pouquinho dessa desordem! Se pensarmos no aumento diário da população mundial, da frota de carros, do lixo produzido, da energia e comida consumidas, não é difícil concluir que seguimos num caminho cuja desordem sempre aumenta. Isso sem falar dos eventos naturais que independem do ser humano.
É curioso perceber que mesmo que gastemos tempo e energia a fim de reverter a desorganização de nossas vidas, não podemos evitá-la por completo; sempre ficam vestígios do passado, não importando o grau de cuidado e detalhamento que tenhamos. A natureza segue as suas próprias leis, não importando o que fazemos ou deixemos de fazer; o universo segue numa direção de aumento da desordem. E não adianta se descabelar, porque isso também contribui para essa tendência natural.
Professor Fabiano G. Wolf, Dr. - Professor e pesquisador do Centro de Engenharia da Mobilidade (CEM) Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Campus de Joinville - joana@bu.ufsc.br
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