quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ruy Barbosa, o um poço sem fundo de erudição


Ruy Barbosa, o sisudo, um poço sem fundo de erudição, talvez tenha sido um dos homens públicos mais caricaturados no Brasil de Machado de Assis, Chiquinha Gonzaga, Raul Pederneiras, K. Lixto, J.Carlos e Nair de Tefé. Levava-se tão a sério que difícil seria para a população brasileira, principalmente a carioca, não zombar de tamanha sisudez, ranzinzice e austeridade. A maioria dos textos ruibarbosianos caracterizava-se por um sarapatel indigesto de antífrases, antonomásias, disfemismos, hipálages, metalepses, matiazites, anadiploses, sínqueses, prolepses, oxímoros. Que não são doenças, nem curas, mas figuras de pensamento e construção a afundar cada vez mais o homem comum, semi-analfabeto, nas trevas da própria ignorância.
De como Ruy Barbosa, o erudito, despetalava a flor do Lácio caprichosamente, glosa-se, até hoje, em todos os principais cursos de Direito do Brasil. E os casos se tornaram extravagantes, quando, por motivos alheios à própria vontade, o luminar descia da torre de marfim para contatos fortuitos com a plebe rudimentar.


Notável se fez o episódio do flagrante a um ladrão de patos. Ruy Barbosa, o douto, ao chegar certa noite ao casarão onde morava, na então aprazível Rua São Clemente, em Botafogo, ouviu um barulho estranho vindo do quintal. Apressou-se o suficiente para flagrar um homem que pulava o muro, tentando furtar-lhe os patos de estimação. Aproximou-se, vagarosamente, e bateu nas costas do gatuno com o castão da bengala:

- Bicéfalo, não é pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes e sim pelo ato vil e sorrateiro de galgares os profanos de minha residência. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares de minha alta prosopopeia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica no alto de tua sinagoga que te reduzirá à quinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

O ladrão espantado, confuso, amedrontado, aterrorizado, apertou os olhos e balbuciou:

- Doutor, levo ou não levo os patos?

Retirado do Blog: “Passavante”.

As pessoas que me conhecem sabem da minha frase predileta: _"Por ser tarciturno, fomento a pusilanimidade do ego, suscitando a lascidão do insípido de viver, carpo, pois sei que alcançarei o paroxismo da missantropia".

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