Por Eliakim Araujo em Miami
Se a moda pega, o território americano vai virar um imenso campo de concentração. Por sua conta e risco, a governadora republicana do Estado do Arizona, Jan Brewer, assinou uma lei na sexta-feira, depois de aprovada pelos legisladores estaduais, que transforma em crime a imigração ilegal. Uma lei discriminatória e covarde.
A lei autoriza os policiais do Estado do Arizona a pedirem documentos e prenderem qualquer um que eles considerem suspeitos. Ou seja, a partir dessa lei a polícia tem carta branca para prender e arrebentar. E a palavra da vítima não terá nenhum valor porque é apenas um imigrante ilegal.
A lei de Dona Brewer atende ao ideário dos mais radicais políticos e da mídia conservadora dos Estados Unidos, capitaneada por um tal Glenn Beck, o Jabor da TV americana. Não é de hoje que eles pregam abertamente a adoção de medidas mais duras contra os imigrantes indocumentados e os culpam pelos males do país, quando na verdade eles representam uma extraordinária força de trabalho e se não recolhem mais impostos é exatamente porque não são legalizados.
Há nos Estados Unidos estimados 10 a 12 milhões de imigrantes indocumentados, a grande maioria formada por mexicanos. Só no Arizona, são 460 mil.
A lei criou um clima de indignação geral na comunidade hispânica, o maior grupo minoritário do país, com quase 10% da população. Essa é a primeira vez na história do país, que pretende dar lições de democracia ao mundo, que a polícia tem o direito de prender e punir alguém pelo simples fato de não possuir um visto, mesmo que ele não tenha cometido crime algum.
Até agora os Estados Unidos estavam a salvo desse comportamento arbitrário que tem sido adotado na maioria dos países europeus, como na Itália do new facista Berlusconi que colocou o exército nas ruas para caçar imigrantes, ou na Suiça, onde a extrema direita de idéias neo-nazistas age com o mesmo rigor.
A lei do Arizona terá várias consequências. A primeira delas será a resposta da Casa Branca, que já acionou seu departamento jurídico para se manifestar sobre a legitimidade de uma lei estadual se sobrepor a um assunto da competência federal , como é a política migratória.
Outra consequência, essa de natureza política, é a força do eleitorado hispânico. Eles marcharam com Obama na eleição presidencial confiando na promessa de campanha de prioridade para a reforma imigratória. Obama não teve tempo. Passou todo primeiro ano de governo tentando debelar a crise econômica e aprovar sua sonhada reforma do sistema de saúde.
Mas agora, com a posição adotada pela governadora do Arizona, a comunidade hispânica está cobrando uma ação enérgica e efetiva do governo central, sobretudo depois que a governadora Brewer justificou a lei “pela incapacidade do governo federal de garantir nossas fronteiras”.
A Lei do Arizona vai obrigar o governo e os congressistas a arregaçarem as mangas para enfrentar a delicada questão migratória que não pode mais ser adiada. O ano é eleitoral. Toda a Câmara Federal será renovada (434 deputados) e parte do Senado (36 cadeiras). O risco para a classe política é enorme. Os hispânicos são 42.7 milhões de pessoas nos EUA, de acordo com o escritório do Censo. E serão 54 milhões em 2012, segundo projeções. É um extraordinário cacife político que pode decidir uma eleição.
A semana que está começando vai trazer novos elementos ao debate. Ou o governo Obama entra de sola no assunto, como fez com a reforma da saúde, ou a Lei do Arizona pode se espalhar e transformar os EUA em um imenso campo de concentração.
A direita americana está aí pro que der e vier, cada vez mais agressiva e atrevida.
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