Para a maioria dos especialistas, as operações repressivas desencadeadas contra os “bandos narco” em São Paulo representam o primeiro módulo experimental de "guerra contraterrorista" urbana no Cone Sul.
Na realidade - assinalam - e utilizando como pretexto a "guerra contra o narcotráfico", o exército brasileiro executa um exercício de controle de conflitos sociais que está contemplado no plano de "guerra contraterrorista global" no Cone Sul.
Além disso, tendo a "guerra contraterrorista" como marco, põe-se em prática um plano geopolítico estratégico com o qual Washington pretende confirmar seu domínio geo-político-militar sobre as estruturas econômicas e sobre os recursos naturais e de biodiversidade da região.
Água, gás, petróleo, biodiversidade e uma plataforma continental (a Amazônia), vitais à sua sobrevivência futura, se apresentam como os principais detonadores do plano de controle geopolítico-militar das "cinco fronteiras", desenvolvido por Washington sob o disfarce da "guerra contra o terrorismo".
A localização militar na tripla fronteira, que usa como argumento o "perigo terrorista", permite que o Comando Sul fique perto das cinco fronteiras (Colômbia, Equador, Peru, Brasil e Venezuela), onde se encontra uma gigantesca reserva de petróleo compartilhada.
No plano operacional da "guerra contraterrorista", o encarregado de realizar diagnósticos e propor políticas para a região é o Comando Sul, e não a Casa Branca ou do Departamento de Estado.
Os últimos documentos do Comando Sul dos EUA determinam que as "ameaças" atuais da região são o “terrorismo transnacional”, o “narcoterrorismo”, o tráfico ilícito, a falsificação e lavagem de dinheiro, o sequestro, as quadrilhas urbanas, os movimentos radicais, os desastres naturais e a migração massiva.
O principal objetivo, segundo esses documentos, é fazer com que "os aliados regionais (e seus exércitos) tenham capacidade e vontade" de participar de uma série de "operações combinadas", como ações antiterroristas, de intercepção marítima, operações de paz e ajuda humanitária.
Neste marco se enquadra a atual participação do exército brasileiro na "guerra contra o narcotráfico e o crime organizado", cujas operações estão sendo realizadas sistematicamente desde 2005 até hoje.
Operacionalmente as ações que serão desenvolvidas na "guerra contraterrorista" buscam alinhar - mediante acordos de cooperação militar, tratados, treinamento e operações conjuntas - aos serviços de inteligência, policiais e exércitos regionais num plano estratégico de "combate ao narcoterrorismo e ao crime organizado", cujo eixo organizador e operacional centraliza-se no Comando Sul dos EUA (Plano contraterrorista).
No plano político e social, busca-se o alinhamento dos governos regionais em torno de um mesmo plano repressivo contra os conflitos sociais, cuja consigna aglutinadora é a de preservar a sociedade do “caos e da violência terrorista" das organizações sociais, dos sindicatos e dos partidos de esquerda que propõem e realizam greves, ocupações de fábricas ou de empresas, ou bloqueios de estradas (Plano de contenção de conflitos sociais).
No marco das alianças regionais contra o "terrorismo" o Comando Sul privilegia suas alianças regionais com os exércitos do Chile, em primeiro lugar, e do Brasil em segundo.
Discutindo o cenário da "guerra contra o terrorismo", o Exército do Brasil enviou 20.000 homens para suas fronteiras com a Venezuela (considerada pelo Comando Sul como o principal sustentador da "narcoguerrilha"), um número que dobrará nos próximos dois anos.
Além disso, o Comando Sul dos EUA tem instalado tanto no Chile como no Brasil um sistema de videoconferência que conecta em tempo real os estados maiores das três forças armadas. Este sistema tem também incorporado um programa de comunicação em tempo real criptografado para intercâmbio de informação sobre os movimentos de terroristas, do narcotráfico e do “crime organizado”.
Segundo seus documentos, o Comando Sul considera o exército brasileiro como um complemento estratégico do exército chileno no balanço regional de "combate ao terrorismo, às drogas e ao crime organizado".
Segundo os especialistas, neste sentido é preciso interpretar a operação e os objetivos subjacentes à "guerra contra o narcotráfico e o crime organizado", lançada em São Paulo por sete dias consecutivos.
A operação – afirmam – tem como objetivo central a implicação do exército brasileiro (como um primeiro módulo experimental do Cone Sul) no marco da "guerra contraterrorista" interna, com a consequente aplicação futura nos conflitos sociais projetados para a região.
Na realidade, e utilizando como desculpa a "guerra contra os bandos do narcotráfico e do crime organizado", o exército brasileiro e a polícia brasileira estão executando em São Paulo um plano de controle de conflitos sociais que está contemplado no plano global de "guerra contraterrorista" de baixa intensidade no Cone Sul.
(*) Manuel Freytas é jornalista, pesquisador, analista de estruturas de poder, especialista em inteligência e comunicação estratégica. É um dos autores mais difundidos e referenciados na Web na área. Veja seus trabalhos no Google e em IAR Noticia (Traduzido por Roberta Moratori)
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