
por Mark Weisbrot [*]
A maior questão econômica que o Brasil tem a enfrentar, como no caso da maioria dos países em desenvolvimento, é determinar quando será possível atingir seu pleno potencial de crescimento econômico. Para o Brasil, existe uma comparação simples e altamente relevante: seu passado anterior a 1980, ou seja, anterior ao neoliberalismo.
Entre 1960 e 1980, a renda [1] per capita – o indicador mais básico de que os economistas dispõem sobre progresso econômico – cresceu em cerca de 123% no Brasil. De 1980 a 2000, seu crescimento foi de menos de 4%, e de 2000 para cá ficou em cerca de 24%.
Seria difícil exagerar a importância dessa "mudança de regime" econômico. É claro que crescimento econômico não é tudo; mas, em um país em desenvolvimento, ele é um prerrequisito para a maior parte das formas de progresso social que as pessoas gostariam de ver.
Caso o Brasil tivesse continuado a crescer em seu ritmo anterior a 1980, teria hoje um padrão de vida semelhante ao da Europa. Em lugar de abrigar cerca de 50 milhões de pobres, como é o caso atualmente, a pobreza seria muito baixa. E quase todos desfrutariam hoje de padrões de vida, níveis educacionais e cuidados de saúde vastamente superiores.
Esse desfecho teria sido possível? Com certeza. A Coreia do Sul, que em 1960 era pobre como Gana, cresceu de forma tão rápida quanto o Brasil até 1980, mas, ao contrário do Brasil, seu ritmo de crescimento não despencou depois daquele ano. Hoje, a renda [1] per capita da Coreia do Sul atinge níveis europeus.

A adoção de metas inflacionárias pelo Banco Central também desacelerou o crescimento e conduziu a uma supervalorização periódica da moeda, o que prejudica o crescimento industrial e o desenvolvimento ao tornar as importações baratas demais e as exportações brasileiras caras demais. O governo também abandonou a maior parte das políticas industriais e estratégias de desenvolvimento que haviam gerado o sucesso de que o país um dia desfrutou com respeito ao crescimento. O Brasil faz parte do grupo dos Brics, mas é diferente de Rússia, Índia e China. De 1998 a 2008, a economia russa cresceu em 94%; a da China em 155%; e a da Índia em 99%. A do Brasil cresceu em 39%.
Houve progressos significativos no governo Lula, com crescimento cumulativo do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de 23%, ante apenas 3,5% nos anos de FHC (1995-2002). O desemprego caiu fortemente, de mais de 11% quando Lula assumiu para 6,9% hoje. De 2003 a 2008, o índice de pobreza brasileiro caiu de 38,7% para 25,8%, segundo a Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina.
Para os eleitores que votarão em outubro a fim de escolher um presidente e estão preocupados com o futuro do Brasil, uma grande questão seria determinar quem será capaz de levar o país adiante e adotar as políticas necessárias a realizar o potencial de crescimento econômico brasileiro, e quem enfrentará os poderosos interesses privados que se opõem a essas mudanças – especialmente no setor financeiro, que favorece taxas altas de juros, crescimento mais lento e uma moeda supervalorizada, e na maior parte dos grandes veículos de mídia. Não será uma batalha fácil, mas seu resultado terá impacto enorme sobre o padrão de vida da vasta maioria dos brasileiros.
[1] No Brasil chamam de "renda" ao rendimento.
[*] Co-director do Center for Economic and Policy Research, em Washington, D.C.
O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2010/weisbrot290810.html , a versão em português em www.cepr.net/... e na Folha de S. Paulo de 27/Agosto/2010
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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