sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A Imprensa segue a agenda dos EUA

Qualquer cidadão brasileiro que se informe pelos tradicionais meios de comunicação, principalmente a televisão, tem opinião formada, e contrária, naturalmente, a Hugo Chávez, Mahmoud Ahmadinejad e Fidel Castro. Eles fazem parte do eixo do mal que os Estados Unidos difundiram aos quatro cantos, contando com a docilidade da imprensa que lhe serve de porta-voz.

Mas quem governa aqui, a gente pode olhar e formar opinião com mais gabarito. Mais difícil é analisar os governantes e regimes estrangeiros com a pobre cobertura internacional da imprensa brasileira. Os mesmos que conhecem e condenam Chávez e Evo jamais ou pouco tinham ouvido falar de Hosni Mubarak, o ditador egípcio há 30 anos no poder com base num regime brutal e corrupto. Alguns poderiam dizer que o Egito fica mais longe que a Venezuela e a Bolívia e por isso não chega muita informação por aqui. Mas o Irã também está muito distante e todo mundo tem o que dizer sobre Ahmadinejad.

O pouco conhecimento sobre a ditadura de Mubarak se deve ao fato de o Egito não estar na pauta de condenações dos Estados Unidos. Ao contrário, é um aliado confiável, que recebe US$ 1,3 bilhão de ajuda militar norte-americana por ano, quantidade só inferior à destinada a Israel. Os Estados Unidos funcionam assim: aos inimigos, a condenação permanente. Aos aliados, olhos fechados. O Irã é brutal porque condena pessoas ao apedrejamento. A Arábia Saudita, que tem formas semelhantes de condenação, não merece uma linha de condenação.
O pouco conhecimento sobre a ditadura de Mubarak se deve ao fato de o Egito não estar na pauta de condenações dos Estados Unidos. Ao contrário, é um aliado confiável, que recebe US$ 1,3 bilhão de ajuda militar norte-americana por ano, quantidade só inferior à destinada a Israel.

O infeliz nessa história é que a grande imprensa brasileira repete o pensamento do Departamento de Estado. Os noticários estão cheios de matérias sobre Irã, Venezuela e outros “mal vistos” e pouco se sabe do que acontece nos outros cantos do mundo. Quando explode uma revolta como a do Egito, as pessoas têm dificuldade de entender o processo. E a grande imprensa não se esforça muito em informar. Não é dito claramente que Mubarak está há 30 anos no poder com apoio e financiamento dos EUA, pois garante petróleo e gás a Israel e uma certa estabilidade do Estado judeu, além de ser um contraponto aos regimes islâmicos, que causam pânico aos Estados Unidos.

A cobertura é indigente e se perde em atos de vandalismo, como os que atingiram museus do Egito, como se questões colaterais tivessem mais relevância que o fato em si. Estamos testemunhando a história à frente dos nossos olhos. O Egito, assim como a Tunísia, está em convulsão e prestes a originar uma transformação radical em todo o Oriente Médio, e as oportunidades oferecidas aos brasileiros de compreenderem todo o processo é reduzida por uma cobertura sem dimensão histórica e com viés norte-americano.

Na TV Globo, a emissora de maior audiência do país, as informações, inicialmente, eram passadas via correspondentes nos EUA. Ora, a informação que o jornalista tem sobre os acontecimentos lá é a mesma que temos aqui. Ele não tem acesso a fontes primárias e apenas reproduz o que recebe de agências de notícias ou do governo americano. Seria legítimo ouvir o que tem a dizer sobre o que pensa o governo dos EUA e como pretende agir. Mas ter toda a história contada a partir de Washington é o fim da picada.

Entende-se que esse arremedo foi necessário enquanto um correspondente não chegava ao Cairo, mas a prática não foi interrompida mesmo após isso acontecer. A imprensa tradicional ainda tem grande importância no Brasil, embora já não dite mais o comportamento político como no passado. Nessa explosão egípcia, a imprensa como um todo ficou a reboque das redes sociais. Talvez fosse melhor ficar de olho nelas e sua capacidade de fazer história ao invés de reproduzir a cartilha norte-americana e seu discurso alienante.

Retirado do Site: "Direto da Redação

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